sexta-feira, 30 de maio de 2014

E SAIBA QUEM ISTO LER


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“ E saiba quem isto lêr (porque lhe parecerá
por ventura cousa leve o desenho) que não ha hoje 
este dia debaxo das strellas cousa mais
 deficil e ardua que o desenhar.(...) E em tanto 
ponho o desenho, que me atreverei a mostrar como 
tudo o que se faz em este mundo é desenhar. 


> Leituras num banco de jardim | Citação 7
Francisco de Holanda (1517-1585), Portugal
in "Da Pintura Antiga", 1548, 
ed. Imprensa Nacional/CML, Lisboa, 1984


> Xisto | Azulejo
Azulejo hexagonal, séc. XVII
Índia (Bijapur?) (proveniente do Convento de Santa Mónica, Goa)
©  CRO|XISTO|AZ

terça-feira, 27 de maio de 2014

FLORES DE MURTA


A murta (Myrtus communis), repleta de botões, começou já a florir. Este arbusto autóctone, muito desejado nos Jardins do Xisto, é praticamente inexistente nas redondezas. O sítio mais próximo em que é ainda abundante, tanto quanto sabemos, é a Serra de Sarzedas, a cerca de 5 quilómetros da Silveira dos Limões, e foi das encostas desta serra que se transplantaram vários pés de murta, alguns dos quais vingaram e estão agora bem adaptados e robustos. 

Voltaremos aqui a falar da murta, das propriedades medicinais e condimentares que lhe são reconhecidas, pelo menos desde os tempos de Afrodite, deusa grega do amor. Para já, ficamos com a beleza discreta das suas primeiras flores deste ano. 


> Xisto | Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Murta dos Jardins do Xisto, 
Silveira dos Limões, Maio 2014
fotografia digital
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)

quinta-feira, 22 de maio de 2014

FIGUEIRA



Outra fotografia da figueira (Ficus carica), tirada dois meses depois da anterior, que registava figos temporãos. Entretanto, esta figueira transformou-se rapidamente numa jovem árvore de grandes e robustas folhas, agora com novos e numerosos filhotes. Alguns dos tais figos precoces definharam e acabaram por cair, mas quatro deles continuam sólidos. Até quando? 

(Continuaremos a seguir a "saga dos temporãos sobreviventes").


> Xisto | Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Figueira do Terreiro da Saudade,  
Jardins do Xisto, Silveira dos Limões, Maio 2014
fotografia digital
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)

CAÇA-TOUPEIRAS


Onde quer que haja horta ou jardim, a cava-terra ou toupeira (Taipa occidentalis), é bicho indesejado. Nas últimas semanas as toupeiras invadiram em força todos os canteiros do patamar inferior dos Jardins do Xisto. O que fazer? Nada. Afinal estes mamíferos insectívoros podem ser mais úteis do que prejudiciais. Ao perfurar o solo para construir uma complexa rede subterrânea de túneis e galerias alimentam-se de larvas e insectos nocivos. 
Por enquanto, o prejuízo mais evidente da presença de toupeiras nos Jardins do Xisto, dadas as características do terreno em socalcos, diz respeito ao desperdício da água das regas, que vemos esvair-se a vários metros de distância dos canteiros. 

"O principal predador da toupeira acaba por ser o homem, que vê nela uma praga, responsável pelo desenraizamento de plantas e deslocamento de raízes. De facto, enquanto constrói galerias, a toupeira vai revolvendo a terra, causando algum prejuízo a agricultores e jardineiros. No entanto, a sua presença tem também um lado positivo, visto ser uma grande consumidora de animais prejudiciais a muitas plantas de cultivo e oxigenar o solo através da sua actividade escavadora". (v. link)

Este invulgar artefacto de cerâmica popular, uma armadilha para caçar toupeiras, tem a particularidade de integrar factores mágicos/fálicos do mundo rural, sendo representativo do imaginário fantasioso dos barristas de Ribolhos.


> Xisto | Etnografia 
Caça-toupeiras, déc. 1980
Cerâmica, barro negro de Ribolhos (Castro d'Aire) 
©  CRO|XISTO|ET.

terça-feira, 20 de maio de 2014

SARGAÇO



Por estas paragens da Beira Baixa chamam-lhe simplesmente sargaço, mas devido à coloração verde-esbranquiçada da sua folhagem é também conhecido por sargaço-branco ou mato-branco. Trata-se da espécie autóctone Halimium ocymoides, que pertence à mesma família das estevas (Cistaceae).

Embora em perigo de extinção, a verdade é que este ano já nasceram espontâneamente vários sargaços nos Jardins do Xisto, decerto devido à propagação das suas sementes num território onde se sentem protegidos. Todos estão a florir nesta altura do ano. 


> Xisto | Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Sargaço do Terreiro da Saudade,  
Jardins do Xisto, Silveira dos Limões, Maio 2014
fotografia digital
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)

segunda-feira, 19 de maio de 2014

AMARILIS



Este fim de semana floriu nos Jardins do Xisto a primeira amarilis, também conhecida por açucenaAs designações científicas Amaryllis belladonna ou Hippeastrum, respectivamente atribuídas a espécies originárias da África do Sul e da América tropical, dividem botânicos e especialistas em jardinagem, dadas as fortes semelhanças que apresentam. Os produtores e comerciantes destas espécies resolveram o problema atribuindo a qualquer delas o nome genérico amarilis. E nós seguimos o exemplo.


> Xisto | Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Amarilis híbrida dos Jardins do Xisto,  
Silveira dos Limões, Maio 2014
fotografia digital
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)

terça-feira, 13 de maio de 2014

É PRECISO PARTIR




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 É preciso partir. É preciso ficar. 


> Leituras num banco de jardim | Citação 6 
Eugénio de Andrade (1923-2005), Portugal
in As palavras interditas, 1951


> Xisto | Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Azálea junto ao muro do pátio, Silveira dos Limões, Abril 2014
fotografia digital
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)

segunda-feira, 12 de maio de 2014

ALELOPATIA? (III)



As hortensias (Hydrangea macrophyllaapreciam humidade constante no solo e alguma protecção do sol directo. Por isso foram recentemente plantadas junto de estevas e carquejas, para que estas autóctones tão resistentes possam facultar-lhes um pouco de sombra. Veremos se as hortensias irão sobreviver aos dias extremamente secos e às altas temperaturas do Verão. 

Acredita-se que este tipo de combinações pode contribuir para que a nossa flora autóctone 
seja valorizada. E deseja-se que a esteva possa vir a ser mais utilizada na jardinagem portuguesa, a exemplo do que já acontece noutros países, que a importam como exótica.

Quanto a possíveis aplicações da esteva para fins medicinais ou no campo da perfumaria, raramente exploradas em Portugal, transcrevemos a informação de J. L. Laia na caixa de comentários
"A esteva exsuda uma resina, designada por lábdano, que pode ser colhida quer por destilação quer por extracção com solventes. Os produtos assim obtidos são particularmente apreciados pelo seu odor balsâmico. Dos produtos sintetizados pelas plantas, os óleos essenciais estão entre os mais valiosos e de grande aplicabilidade comercial, incluindo a terapia farmacológica.
Quem sabe se, em breve, ao contrário das preocupações da crónica 'Abaixo as estevas', publicada no (jornal) Reconquista da década de sessenta do século passado, passaremos a olhar para a esteva com outros olhos, como recurso endógeno."


> Xisto | Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Hortensias e estevas em flor no terreiro da Saudade,
Jardins do Xisto, Silveira dos Limões, Abril 2014
fotografia digital
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)

quinta-feira, 8 de maio de 2014

ALELOPATIA? (II)



Estevas em flor misturadas com sardinheiras rubras não são coisa frequente em jardins portu-gueses, e no entanto parece-nos perfeito o convívio entre estas duas espécies, a autóctone Cistus ladanifer e a alóctone Pelargonium. 

Além do interesse paisagístico das estevas e do valor ornamental que as suas efémeras e frágeis flores conferem aos jardins no início da primavera, há que lembrar também o uso medicinal desta planta, reconhecida desde a Antiguidade pelas suas propriedades sedativas. 

No século XVI, o célebre Amato Lusitano, pseudónimo de João Rodrigues de Castelo Branco (1511-1568), empregava o óleo de esteva como unguento. Nascido em Castelo Branco mas expulso de Portugal devido às suas origens judaicas, esta grande figura da história da medicina europeia do Renascimento, fez justiça à natureza da sua terra. 


> Xisto|Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Sardinheiras e estevas em flor no Terreiro da Saudade,
Jardins do Xisto, Silveira dos Limões, Abril 2014
fotografia digital
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)

ALELOPATIA? (I)


A esteva (Cistus ladanifer), muito abundante na Beira Baixa, reúne como nenhuma outra espécie da flora autóctone o desprezo geral das populações. É difícil compreender porquê. 

Visitantes dos jardins perguntam com frequência porque não são arrancadas as estevas dos canteiros. Devolvendo a pergunta, ouve-se invariavelmente dizer: que alastram, que secam o terreno, que são feias, que são pegajosas, que cheiram mal...

De facto, até em artigos especializados, por vezes atribuíem-se às estevas propriedades inibidoras do desenvolvimento de outras espécies. Sobre este fenómeno, designado alelopatia, só podemos referir a experiência nos Jardins do Xisto, onde são uma das espécies predominantes e gozam de total protecção. Aqui cresce robusto um cipreste dourado (Cupressus macrocarpa "goldcrest") rodeado de estevas em flor. O cipreste não se queixa.


> Xisto|Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Cipreste dourado e estevas em flor nos Jardins do Xisto, 
Silveira dos Limões, Primavera 2013
fotografia digital
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)

terça-feira, 6 de maio de 2014

FLORES DE LARANJEIRA




A laranjeira do pátio (Citrus aurantium) encheu-se de flores perfumadas e o chão cobriu-se de um tapete de pétalas. Para recolher estas delicadas flores, utilizadas na medicina tradicional sobretudo contra espasmos musculares e distúrbios do sono, deve estender-se sob a laranjeira um lençol ou outra peça grande de tecido. Neste caso, foi utilizado um antigo panal de linho há muito guardado numa arca, produzido em tear manual no tempo em que se trabalhava o linho na Silveira dos Limões

"Como acontece com todas as plantas medicinais, a utilização do chá de flor de laranjeira não deve ser feita com a convicção de que por ser natural não acarreta perigos para a saúde. De facto e se por si só, uma infusão desta planta não apresenta perigos de maior, a sua toma em conjunto com medicamentos alopáticos (aqueles que se compram nas farmácias), tais como ansiolíticos e antidepressivos, pode potenciar a acção destes, resultando daí uma exacerbação dos efeitos adversos que os acompanham.
Mais ainda, esta infusão deve ser tomada no recolhimento do lar pouco antes de dormir, pois o seu efeito relaxante e calmante conjugado por exemplo, com a monotonia da condução de um veículo à noite, aumenta consideravelmente o risco de ocorrência de sinistros. 
Por fim, não esquecer que a preparação da infusão consiste em aquecer água até à sua fervura, deitá-la sobre as flores, manter em contacto 3-4 minutos e que em nenhum caso deve a planta ser fervida conjuntamente com a água, uma vez que as temperaturas demasiado elevadas destroem os compostos que conferem as propriedades farmacológicas das flores." (v. link)


> Xisto|Banco de Imagens da Silveira (BIS)
 Bandeja com flores de laranjeira,
Recolha de flores de laranjeira em panal de linho,
Silveira dos Limões, Abril 2011
fotografias digitais
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)

segunda-feira, 5 de maio de 2014

BANHO DE COR





Com o calor entram em euforia as chorinas (Lampranthus sp.). As suas flores fecham-se durante a noite, para abrir de novo radiosas em pleno sol, nos meses de Maio a Agosto. Tal como os chorões (Carpobrutus edulis), com os quais se assemelham numa escala menor, estas pequenas carnudas são originárias da África do Sul e estão bem adaptadas ao território português.

Nos Jardins do Xisto existem chorinas de várias cores. Neste canteiro foram plantadas duas tonalidades de vermelho brilhante (magenta e vermelhão), e o resultado cromático é estonteante.


> Xisto|Banco de Imagens da Silveira (BIS)
 Chorinas dos Jardins do Xisto, 
Silveira dos Limões, Maio 2014
fotografia digital
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)

quinta-feira, 1 de maio de 2014

QUE MORRO POR MEU PAÍS


Pergunto ao vento que passa
Notícias do meu país
O vento cala a desgraça
O vento nada me diz

Pergunto aos rios que levam
Tanto sonho à flor das águas 
Os rios não me sossegam
Levam sonhos deixam mágoas

Levam sonhos deixam mágoas
Ai rios do meu país 
Minha pátria à flor das águas
P'ra onde vais ninguém diz

Se o verde trevo desfolhas
Pede notícias e diz
Ao trevo de quatro folhas
Que morro por meu país.




Trova do vento que passa
Poema: Manuel Alegre | Música: Alain Oulman
Voz: Amália Rodrigues 
in "Com Que Voz", Março 1969


Xisto | Brinquedos tradicionais 
"Pião patriótico", déc. 1970
madeira pintada, cordel, metal
©  CRO|XISTO|BT

TRABALHO



Entre as várias categorias do trabalho podem destacar-se três grandes grupos: o trabalho profissional, feito para a subsistência dos indivíduos, implicando remuneração ou lucro; o trabalho artístico, feito com criatividade para alimento do espírito, implicando ou não remuneração; e o trabalho de voluntariado, feito desinteressadamente para benefício da comunidade, implicando dádiva. 

Em Portugal, país de "quintais" em que tanto se despreza o espaço público, o trabalho de voluntariado (a que muitos chamam "carolice") é frequentemente incompreendido, senão mesmo olhado com desdém. Há que mudar, sobretudo no interior do país, para que as aldeias sobrevivam à actual população que nelas vive.


> Xisto|Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Trabalhos de manutenção no patamar central dos Jardins do Xisto,  
Silveira dos Limões, Março 2014
fotografia digital
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)