quinta-feira, 8 de maio de 2014

ALELOPATIA? (I)


A esteva (Cistus ladanifer), muito abundante na Beira Baixa, reúne como nenhuma outra espécie da flora autóctone o desprezo geral das populações. É difícil compreender porquê. 

Visitantes dos jardins perguntam com frequência porque não são arrancadas as estevas dos canteiros. Devolvendo a pergunta, ouve-se invariavelmente dizer: que alastram, que secam o terreno, que são feias, que são pegajosas, que cheiram mal...

De facto, até em artigos especializados, por vezes atribuíem-se às estevas propriedades inibidoras do desenvolvimento de outras espécies. Sobre este fenómeno, designado alelopatia, só podemos referir a experiência nos Jardins do Xisto, onde são uma das espécies predominantes e gozam de total protecção. Aqui cresce robusto um cipreste dourado (Cupressus macrocarpa "goldcrest") rodeado de estevas em flor. O cipreste não se queixa.


> Xisto|Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Cipreste dourado e estevas em flor nos Jardins do Xisto, 
Silveira dos Limões, Primavera 2013
fotografia digital
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)

5 comentários:

  1. A esteva exsuda uma resina, designada por lábdano, que pode ser colhida quer por destilação quer por extracção com solventes. Os produtos assim obtidos são particularmente apreciados pelo seu odor balsâmico. Dos produtos sintetizados pelas plantas, os óleos essenciais estão entre os mais valiosos e de grande aplicabilidade comercial, incluindo a terapia farmacológica.
    Quem sabe se, em breve, ao contrário das preocupações da crónica "Abaixo as estevas!", publicada no Reconquista da década de sessenta do século passado, passaremos a olhar para a esteva com outros olhos, como recurso endógeno.

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    1. Infelizmente é verdade que os recursos endógenos são geralmente desprezados. Também por isso, um projecto ligado à natureza e à paisagem pode contribuir para mudar as coisas. Obrigado pelo comentário.

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  2. Pelo que toca ao meu nariz, já hoje se deliciou com o aroma forte e peganhoso, mas doce, das estevas. Estevas que estão espalhadas pelos vários patamares dos jardins o que, na minha modesta opinião, glorifica este espaço maravilhoso.
    Para terminar, não consigo deixar de dizer que esta manhã os jardins estavam imersos num silêncio puro e numa paz compacta, que só de pensar em paz, perturbava a serenidade dos jardins.
    Bem haja.

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    1. "esta manhã os jardins estavam imersos num silêncio puro e numa paz compacta, que só de pensar em paz, perturbava a serenidade dos jardins"

      Bem haja aos teus sentidos. Isso que dizes é exactamente o que sinto quando, antes da primavera, vou à noite aos jardins. Mas nesta altura do ano o "silêncio puro" é substituído por sonoridades incríveis, diria musicais, de pássaros nocturnos, rãs e outros seres que habitam os bosques.

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    2. Tens razão. Fizestes-me lembrar que este ano a primavera veio-me prendar com melodias maravilhosas, que o meu cérebro começou a relembrar... Talvez, por vezes, a felicidade seja uma questão de opção. Não sei, mas quando conseguimos apreciar as coisas mais simples e belas, e os amigos... Pelo menos a vida pode ficar um pouco mais leve, mais colorida. Penso que sim.
      Pessoalmente, os jardins tem-me obrigado suavemente a reflectir, são como um imenso livro aberto sob a "minha" mente.
      Abraço forte.

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