quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

FENÓMENO BOTÂNICO



Na parte mais elevada dos Jardins do Xisto, confluência do Terreiro da Saudade com o novo Jardim dos Medronheiros, um pinheiro-bravo centenário, Pinus pinaster de grande porte, apresenta um dos braços inferiores vergado ao peso de um insólito corpo vegetal, volumoso e compacto, que ao longe parece uma excrescência, ou um enxame, ou ainda uma obra mobile de Alexander Calder, escultor de formas espaciais.

Rara e enigmática "obra da natureza", formada por agulhas de pinheiro, actualmente já não é verde, tem cor da caruma seca. Existe há anos nesta árvore notável e a maior parte dos visitantes dos Jardins do Xisto nunca viu nada assim. Há no entanto quem se lembre de algo idêntico, em aldeias próximas, pendurada "para dar sorte", junto à porta de tabernas ou vendas. 
Superstições à parte, parece que esta espécie de escultura, em forma de quase-coração, aérea e efémera, tão estrategicamente localizada, aguardava que o destino a rodeasse de jardins. Bom sinal, uma sorte, portanto.

Nada sabemos sobre tal fenómeno botânico nem como explicá-lo. Se algum dos nossos visitantes ou leitores tiver qualquer tipo de informação científica, ou se conhecer ocorrências semelhantes, agradecemos que partilhe connosco.


|Adenda 1| |30.01.2015|
Segue um conjunto de fotografias que possibilita localizar o "fenómeno" no espaço dos Jardins e explicitar a relação de escalas. (Clicar as imagens)






|Adenda 2| |02.02.2015|
Com base em memórias dos habitantes locais, é de excluir a hipótese zoológica do ninho de esquilo, referida em comentário a este post por Rafael Carvalho. Extintos do território português desde o século XVI, os esquilos (ver também aqui) reapareceram no norte do país, a partir da Galiza, apenas na década de 1980 e só mais tarde na Beira Baixa. 
Ora, o "fenómeno" dos estranhos corpos vegetais em pinheiros-bravos da Zona do Pinhal Interior é observado há várias décadas, e a ele estavam associados costumes etnográficos, ou mais precisamente etnobotânicos, que consistiam na localização de tabernas através de sinalização botânica, substituindo tabuletas ou letreiros. Destes antigos costumes rurais, infelizmente, ainda não encontrámos qualquer registo descritivo ou iconográfico. 
Segundo nos relata Shanti, na caixa de comentários, "Era então prática comum dos taberneiros, a colheita de raridades vegetais, como 'esculturas' de agulhas de pinheiro, para as pendurarem à entrada das tabernas". Acresce ter sido observado de perto, após a queda das agulhas, o "esqueleto" de tronquinhos emaranhados e contorcidos que sustentava a caruma, como se fosse uma árvore miniatura que tivesse crescido e morrido na extremidade de uma pernada da árvore-mãe. 
Então, como identificar o "fenómeno", como classificar? Será uma anomalia, uma malformação, uma alteração genética? 


|Adenda 3| |09.02.2015|
Depois dos fortes ventos da última semana a bola de caruma ficou meio desfeita. E totalmente desfeita qualquer dúvida que restasse.



Subindo uma escada, foi possível tirar fotografias mais esclarecedoras. Dois níveis de zoom permitem observar a estrutura de tronquinhos atrofiados que produziu e sustentou o corpo compacto de caruma, outrora viva, integrando também pinhas miniatura. 
Resta conhecer a designação botânica para este fenómeno, como se desenvolve e porquê. Saber ainda se ocorre apenas no Pinus pinaster, se está circunscrito a esta zona do Pinhal Interior, se existe noutras regiões do país ou do mundo.





> Xisto | Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Fenómeno botânico em pinheiro-bravo do Terreiro da Saudade, 
Silveira dos Limões, 2015 
Imagens em Adenda 1: Silveira dos Limões, 2012-2015
Imagens em Adenda 3: Silveira dos Limões, 6.02.2015
fotografias digitais
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

CADARRAPOS



Parecem pataniscas, mas o sabor e a textura são bem diferentes. Uma parte da massa de farinheira crua não vai ao fumeiro e reserva-se no alguidar para fazer os cadarrapos, que são fritos em azeite. Este é hoje um dos quase desaparecidos petiscos tradicionais da Beira Baixa. Sabor antigo, delicioso, aqui acompanhado de um macaquinho traquinas de Paula Rego.

No vizinho Alto Alentejo, onde muitos costumes gastronómicos ainda se mantêm bem vivos, também se cozinha esta iguaria. Mas ali, dão-lhe o nome de papa-ratos ou papa- ratinhos.


 > Xisto | Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Cadarrapos, Silveira dos Limões, Janeiro 2015
fotografia digital
©  CRO|XISTO|BIS (RO)


 > Xisto | Arte Contemporânea
Paula Rego (1935), Prato com desenho de macaco
ed. IPPAR / Palácio Nacional de Queluz, s/d (c.2001)
©  CRO|XISTO|AC

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

JARDIM DOS MEDRONHEIROS



Numa zona de pinhal e mato, contígua ao Terreiro da Saudadesurge agora uma extensão dos Jardins do Xisto, com a designação Jardim dos Medronheiros. 

O essencial da intervenção no novo jardim, cujos trabalhos se iniciaram em Setembro passado, consiste na construção de percursos de circulação pedonal. Trata-se de um trabalho de desenho directo no terreno, com o propósito de preservar a vegetação pré-existente. E, de facto, a abertura de caminhos traçados a picareta, pá e enxada, com auxílio de réguas e fita métrica, embora tenha modificado a topografia acidentada e íngreme do sítio não alterou significativamente a vida vegetal autóctone.

Utilizando somente os recursos existentes nas imediações, construiram-se dois tipos de caminhos: eixos principais, descendentes a partir do Terreiro, formados por rectas, curvas e contracurvas, e eixos complementares ou carreiros, deliberadamente mais estreitos e sinuosos. Aqui e acolá, definiram-se ainda algumas clareiras e recantos de repouso com assentos em terra crua.


O solo de saibro ou argila foi aproveitado para formar e nivelar os caminhos de terra batida, os quais são contornados por linhas separadoras em finas lajes de xisto e rodeados por canteiros de terra fértil. Através destes canteiros que são reservatórios de estrume vegetal, pretende-se melhorar as condições do terreno e facilitar a propagação de novas espécies autóctones.

Tendo como cenário envolvente a floresta da Beira Baixa, identificada como sub-região Pinhal Interior Sul, há a destacar a presença de vários pinheiros bravos (Pinus pinasterdispersos, de grande porte, e um bosquete compacto que é na verdade um pequeno pinhal. Outra presença a destacar, o medronheiro (Arbutus unedo), embora por enquanto menos frequente que o pinheiro-bravo, é uma espécie notável que consideramos parte essencial da identidade deste jardim.


 > Xisto | Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Chão de medronheiro, Silveira dos Limões, Outono 2014
Caminhos novos do Jardim dos Medronheiros, Silveira dos Limões, Janeiro 2015
fotografias digitais
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)


JARDIM DOS MEDRONHEIROS FLORA AUTÓCTONE PRÉ-EXISTENTE (Jan. 2015)
carqueja Pterospartum tridentata | carvalho Quercus sp. | coroa-de-rei Helichrysum stoechas | esteva Cistus ladanifer  medronheiro Arbutus unedo pilriteiro Crataegus monogyna | pinheiro-bravo Pinus pinaster queiró Erica umbellata | roselha Cistus crispus | rosmaninho Lavandula stoechas sargaço/mato-branco Halymium ocymoides | tojo-gadanho Genista triacanthos. | urze Calluna vulgaris 


JARDIM DOS MEDRONHEIROS FLORA AUTÓCTONE INTRODUZIDA
azevinho Ilex aquifolium | oliveira Olea europea palmeira-das-vassouras/palmeira-anã Chamaerops humilis rododendro Rhododendron ponticum baeticum | santolina/erva-das-constipações(?) Santolina rosmarinifolia | tojo-molar  Ulex minor | vinca-maior Vinca major 

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

2015


Feliz Ano Novo!

Um jardim demora pelo menos o tempo de uma geração a tornar-se um lugar exuberante, mas a impaciência não faz bem à jardinagem. 

O pinheiro manso (Pinus pinea), uma das espécies notáveis da flora mediterrânica, outrora bem mais frequente nesta zona da Beira Baixa, foi a primeira árvore plantada há três anos atrás nos Jardins do Xisto, quando este projecto paisagístico ainda nem existia. Entretanto foi preciso aprender a alegria de ver árvores a crescer, sobretudo as muito lentas como é o pinheiro manso.  

> Xisto | Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Pinheiro manso, 
Silveira dos Limões, 2014
fotografia digital
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)