terça-feira, 11 de novembro de 2014

MAGUSTO


Dia de São Martinho, há castanhas quentes e boas em todo o país, honrando a festa do Magusto, que celebra o outono e o tempo do vinho novo. Mas aqui em casa, em vez de assadas, as castanhas serão cozidas com açúcar, erva-doce e mancheia de sal, alternativa aromática mais próxima de uma sobremesa, e também mais fácil de cozinhar.  


> Xisto | Etnografia
Bruxa aramada (assador de castanhas) 
Beira Baixa (Castelo Branco?), séc. XX (1ª metade)
cerâmica, arame
©  CRO|XISTO|ET.


Os assadores cerâmicos já eram produzidos em território português na época romana, como pode constatar-se num objecto arqueológico de Bracara Augusta, datado do séc.II-III d.C., que integra o acervo do Museu D. Diogo de Sousa, Braga. 
A peça da colecção Xisto|Etnografia, proveniente da antiga casa de Maria Laia, Silveira dos Limões, é um assador de castanhas em forma de panela cerâmica de dupla asa, crivado de orifícios organizados em círculos sucessivos a partir da base. Apresenta a particularidade de estar envolvido por um dispositivo de protecção em malha de arame. 
A este assador, chamavam-lhe "bruxa", mas na pesquisa que realizámos não ficou esclarecida a origem de tão insólita designação regional.
Terá sido produzido na Beira Baixa, região de Castelo Branco, de acordo com um modelo cerâmico semelhante, inventariado pelo Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa, ou de um outro, também semelhante, produzido em olarias da aldeia de Telhado, Fundão, conforme inventário do Museu de Arte Popular, Lisboa.  

4 comentários:

  1. Não sendo propriamente apreciador de castanhas, aliás, verdade seja dita, o dia de São Martinho passa-me, muitos anos, despercebido, ao ler o post surgiu-me uma imagens fumarenta e esbranquiçada dos vendedores de castanhas nas ruas de Lisboa. Aroma que me rebocava irresistivelmente até ao triciclo do vendedor... Confesso que a peça de cerâmica, assador de castanhas, despertou-me uma curiosidade intensa de tactear essa raridade, e coisa estranha, um desejo de saborear castanhas quentinhas ainda a estalarem... Ah! preferencialmente comidas nos Jardins do Xisto. No meu regresso à Silveira, quem sabe se este desejo é saciado !

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    1. Até eu, fiquei com desejo de saciar-me de castanhas nos Jardins do Xisto, se a chuva não nos impedir, porque caruma de pinheiro não falta. Aliás, embora caída em desuso, a fogueira do magusto feita com caruma, é uma antiga tradição local. Vamos mesmo revisitar esta tradição nos jardins?
      Quanto à bruxa cerâmica, que é de facto uma preciosidade etnográfica, terás em breve oportunidade de a tactear.

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    2. Magusto nos jardins? No final de Novembro já não me faz crescer água na boca.
      Começa agora o tempo a dar largos passos a caminho da época natalícia, e eu a imaginar os jardins do xisto com as ovelhas, os reis magos e, no terreiro da saudade, São José, Maria, a vaquinha, o boi e aconchegado na palhinha da manjedoura o menino Jesus... O presépio com figuras de tamanho real ou, pelo menos, maiores do que miniaturas. Oxalá a ideia fique a pairar em alguma mente com deveras alento.

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  2. Quando eu era pequeno, tanto estava em minha casa como na dos meus avós, que era na mesma rua e tinha um grande jardim com duas palmeiras seculares que ainda lá estão, ao abandono. A seguir ao jardim havia um olival, e a seguir ao olival havia uma vinha, e a seguir à vinha havia um extenso castanheiral que se estendia até à serra. Nesta altura do ano andava eu por lá horas e horas a apanhar e a comer castanhas. Por tudo isso, agrada-me particularmente este post, texto e fotografia. Fico assim a saber que o assador da Beira Baixa não deixa de fazer parte dos objectos cuja forma é eterna e que já em tempos remotos, era praticamente igual.

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