quinta-feira, 23 de outubro de 2014

CHAMINÉ COM GALO




A figura do galo é um ícone da vida rural em várias partes do mundo, pelo menos desde a Idade Média, sendo ainda frequente na Beira Baixa encimando torres de igreja e chaminés

Na tradição popular, consoante a cultura e crenças das comunidades em que é representado, atribuem-se ao galo diferentes significados: símbolo do Bem, protector contra maus espíritos e calamidades, símbolo de virilidade e bravura, símbolo cristão associado ao arrependimento de São Pedro - Hoje, antes de cantar o galo, três vezes me negarás. (Lucas, XXII, 60-62 ) - ou símbolo do Natal (Missa do Galo). O Galo Francês (Coq Gaulois) é historicamente símbolo nacional da França. Por sua vez o Galo de Barcelos, desde a 2ª metade do século XX, tornou-se símbolo folclórico nacional de Portugal.

"Os galos estão habitualmente associados a virtudes, mas muito mais importante é o facto do seu canto anunciar o dia. A noite e a sombra estão associados ao Mal e portanto o nascer do Sol representa a vitória do Bem, sendo o galo o seu arauto. É talvez como figura protectora que o galo enfeita os cataventos das igrejas (...). Em qualquer caso é importante extrair que um galo está sempre associado a factores positivos". (João Manuel Mimoso, in "Uma história natural do galo de Barcelos")

Este mês de Outubro, na Silveira dos Limões, a chaminé do forno comunitário da Praça da República foi parcialmente reconstruída, a partir de um modelo local, e nesta nova chaminé foi integrado um "galo-dos-ventos", adquirido a um artesão alentejano que os produzia e vendia orgulhosamente no mercado de Estremoz. Trata-se de uma peça de desenho ingénuo, um tanto desproporcionada, mas autêntica. Facto curioso, apresenta as letras dos pontos cardeais executadas por dobragem do prolongamento das extremidades da cruzeta de ferro. 
Desde hoje, com seu recorte negro no céu, também aqui o galo tem presença permanente, a "nortear" este sítio da internet.


> Xisto | Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Chaminé com galo-dos-ventos, Silveira dos Limões, Outubro 2014
fotografia digital
©  CRO|XISTO|BIS(RO)

10 comentários:

  1. Fotografia encantadora, texto excelente. E os trabalhos de recuperação são de louvar, para mais num tempo em que à nossa volta pouco se 'constrói' e muito se 'destrói'. Parabéns, Silveira dos Limões.

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    1. Grato pelo seu comentário. Suponho que L'OISEAU RARE, visto que escreve em português tão escorreito, não seja um Galo Francês - Coq Gaulois - mas que o pseudónimo tem graça neste contexto, lá isso tem.
      Em nome da população da Silveira dos Limões agradeço-lhe o reconhecimento pelo trabalho que temos desenvolvido em tempos difíceis.
      Bem haja, volte sempre!

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  2. Vai de vento em popa a recuperação da Silveira dos Limões. Que ideia bonita colocar um galo - dos - ventos na chaminé! Se este galo alentejano cantar de madrugada, bem podem os habitantes embalar de novo...
    Eu que sou alentejana até acho graça!

    Há quem queira ficar na História sem nada fazer, antes desfazer. Mas há quem, longe dos holofotes, vá acrescentando à História pedacinhos que nos enriquecem enquanto povo solidário e orgulhoso.
    Que força é essa, amigos?

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    1. Que força é essa? A força é, talvez, acreditar.
      Acreditamos que é preciso não baixar os braços, que a harmonia se constrói a partir do que nos está próximo, ou daquilo que se torna próximo, porque é assim que o queremos.
      E acreditamos que vale a pena construir "um futuro para o nosso passado", não apenas no que respeita às grandes obras do património erudito, também no que respeita ao património rural abandonado e esquecido.
      Acreditamos sobretudo que podemos contribuir para que outros acreditem connosco, mesmo que seja na pequeníssima escala local (mas não menos universal) da Silveira dos Limões.

      O teu comentário dá-nos força. Bem haja, amiga!

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  3. Excelentes comentários por aqui! Há quem queira ficar para história pelo desfazer, é o que se chama – política da terra queimada. Destruir, para depois construir um novo Portugal e "novos portugueses" criados e educados de acordo com a estetização política dominante, os restantes "que emigrem". Hitler e o terceiro Reich foi um exemplo de implementação deste sistema, com as consequências que todos conhecemos.

    Entretanto e não há assim tanto tempo, o Primeiro-Ministro Cavaco Silva, agora Presidente, também tinha uma ideia à sua escala de transformar o país na "Califórnia da Europa" – expressão interessante, porque é demonstrativa de um desdém com o que é Portugal, com a sua história e cultura, mas talvez mais importante com as suas pessoas – o povo. As consequências deste pensamento destrutivo, foram rapidamente assimiladas e muito do interior transformado não numa Califórnia, mas numa ruína.

    Por tudo isto, o trabalho comunitário na Silveira dos Limões é impressionante. Por recuperar e fomentar a cultura e o respeito pela história e tradições locais. Não é uma história em caixilho, bolorenta, é uma história viva no presente. Nesta comunidade estão-se a plantar as raízes para o futuro.

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    1. A questão da recuperação é tão pertinente no que respeita ao património rural da pequena comunidade que é a Silveira dos Limões, como à escala do país inteiro. Levantar das ruínas é tarefa demorada e árdua. Exige-nos esforço constante, persistência.

      Tudo o que tem vindo a ser destruído pelo (des)governo do país nestes últimos três anos demorará décadas a recuperar. E, infelizmente, há vidas arruinadas que ficarão pelo caminho, que não poderão ser reerguidas. Construir é política, destruir é ignorância ou estupidez, por vezes crime. O mundo da política e da economia tornou-se um antro de psicopatas engravatados, vivendo vidas em redomas de luxo, alheios a tudo, excepto os seus interesses privados e certezas monetárias. Aí, não cabe nem a sensibilidade social nem a visão cultural.

      De tempos a tempos, mesmo acreditando, o cansaço e as adversidades fazem-nos questionar se vale a pena o trabalho comunitário que aqui vamos desenvolvendo, e também, se a pequena dimensão geográfica e estética deste projecto local justifica tanto esforço. Na verdade, o contexto nacional aqui trazido pelo teu comentário deu-me algumas respostas. Bem haja.

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    2. Quando falamos desta coisa muito actual da destruição, lembro-me sempre do último anuncio de um banco falido em Portugal no inicio deste ano. O anúncio dizia o seguinte "Não é reconstruir, é fazer melhor." De facto, julgo que este é também um princípio a colocar em prática nas nossas vidas – a reconstrução por si, não tem qualquer interesse, mas fazer melhor que antes sim, acrescenta valor.

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  4. Mister H., não posso estar mais de acordo com as contundentes considerações dos dois primeiros parágrafos do teu comentário. Quanto ao que dizes no terceiro, só me resta agradecer, em nome do Xisto. Obrigado.

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  5. Desenho engendrado, início do sonho. Nos Jardins do Xisto, o "galo" foi vencendo adversidades e há-de auxiliar-nos a transformar este lugar. Árvores soberbas, flores de perfume inebriante, tudo envolvido de pedra.

    Hoje, empoleirado na chaminé, o galo já canta. Porque como muito bem disse Mister H, "Não é uma história em caixilho, bolorenta, é uma história viva.". Já não está a Silveira condenada às memórias saudosistas dos antigos.
    "Vale a pena construir um futuro para o nosso passado". Abençoado pensamento. Que isto se apegue à comunidade...!

    E já agora, gostei muito dos comentários anteriores.

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    1. Olá Shanti, é engraçado como um galo a cantar aos quatro ventos, "empoleirado" no topo de uma chaminé, faz soltar a língua e por toda a gente à conversa. Os símbolos têm destas coisas! Há uma poesia nisto tudo que aquece o coração.

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