quarta-feira, 8 de outubro de 2014

O BUSTO


Há uns anos atrás, por graça, o vizinho José Nunes pendurou um busto da República no exterior da sua adega, situada no centro da Silveira dos Limões. E a este busto, que tinha encontrado no lixo, juntou depois um painel de platex pintado com a inscrição "Praça da República". 
Mais tarde, em 2010, ano do centenário da proclamação da República, surgiu a ideia de fazer alguns melhoramentos neste local. Os primeiros trabalhos foram dedicados ao arranjo da fachada da adega de José Nunes, e dependências contíguas. Havia que colocar o busto sobre uma condigna peanha de xisto, rebocar-à-colher as paredes de blocos de cimento à vista e concluir a intervenção com pintura a cal (clique para ampliar as imagens). 
Posteriormente, em 2013, o vizinho Nuno Martins, por sua vez, procedeu à recuperação de um antigo palheiro de xisto, que é uma das construções tradicionais mais marcantes da povoação, situada igualmente na dita "praça". 
Finalmente, quatro anos depois da primeira intervenção, agora por iniciativa conjunta de um grupo de vizinhos, estão em curso os trabalhos de recuperação do segundo forno comunitário da aldeia, pequeno edifício que estabelece a transição entre os dois níveis ou patamares superior e inferior do recinto da Praça da República. 
E tudo isto por causa da res publica, em prol da "coisa pública". 


> Xisto | Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Edifícios do lado sul da "Praça da República, 2010
fotografias digitais
©  CRO|XISTO|BIS(RO)

4 comentários:

  1. Grandes obras nascem e florescem de pequenos "nadas".
    Coisas "insignificantes" transmutam-se, adquirem cores reluzentes, formas expressivas, e ganham vida própria integradas no universo do qual sempre fizeram parte.
    Felizmente que a nossa aldeia é prendada com olhos e mãos que vislumbram esses pequenos "nadas" como pedras preciosas que, lentamente, vão embelezando a Silveira dos Limões.

    Quanto ao José Nunes, confessa, "De uma brincadeira nasceu uma praça da qual hoje me orgulho.". No entanto, com um sorriso no rosto, adianta que a Praça da República e outras partes da povoação que têm vindo a ser recuperadas, é trabalho altruísta de pessoas que muito têm beneficiado a aldeia, "Esta terra está com mais dignidade, começamos a senti-la como espaço público que devemos acarinhar, no fundo já todos sentimos orgulha e vaidade da nossa aldeia.".
    Eu, Shanti, e minha família agradecemos, bem haja.

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    1. Grato pelas palavras de Shanti e de José Nunes.
      Mas devo dizer, as intervenções no espaço público só se tornam eficazes e produtivas se for possível envolver a colaboração ou participação de vários membros da comunidade. E, neste caso, podem tornar-se um verdadeiro projecto de desenvolvimento local.

      A Praça da República é um bom exemplo, não existiria sequer sem um grupo de vizinhos determinados. Honra lhes seja feita. Curiosamente, o sentido antigo do termo "RES - PUBLICA", que quer dizer "coisa pública" ou "bem público", é muito adequado a este sítio e ao trabalho aqui realizado. E não sendo exactamente uma "praça", no sentido urbanístico do termo, não deixa de o ser no plano simbólico, à escala da aldeia, como lugar de encontro.

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  2. Dou por mim a voltar a esta história muitas vezes e de cada vez a acho mais inspiradora.

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    1. Bem haja, Rosa.
      Esta história da Praça da República acabou em bem e em festa, no passado sábado. Todas as construções voltadas para a "praça" estão agora recuperadas. Falta apenas cobrir com uma grande laje de xisto o tampo da mesa de cimento que já lá está. Achamos nós, que uma mesa redonda de pedra no centro de uma praça é uma convite permanente para que o convívio se faça em torno dela, uma alegoria ao alimento do corpo e do espírito..

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