quinta-feira, 24 de dezembro de 2015


Silveira dos Limões é um nome singular no conjunto toponímico das localidades portuguesas. Tal singularidade advém da palavra "limões" e é por isso que a página do facebook dedicada ao projecto XISTO apresenta regulamente imagens a partir do nosso arquivo digital - Um Museu Imaginário | Silveira dos Limões - dedicado à iconografia do limão em obras de arte. Aqui fica um exemplo notável, escolhido como imagem de capa.


 > Xisto | Um Museu Imaginário | Silveira dos Limões
Bartolomeo Bimbi (1648-1723), Citrus, 1715, Villa Medici, Roma

terça-feira, 24 de março de 2015

segunda-feira, 16 de março de 2015

O MUNDO ARTISTA

>
 O mundo artista é um prolongamento da infância, 
dos seus medos e dos seus gritos penetrantes como
 o que os pavões soltam num parque deserto. Um parque arruinado, não um jardim francês, geométrico e letal. 


> Leituras num banco de jardim | Citação 14
Agustina Bessa-Luís (n.1922), Portugal
in As Meninas (Agustina sobre Paula Rego), ed. Guerra e Paz, Lisboa, 2001


> Xisto | Azulejo 
Paula Rego (1935), Portugal
s/título (menina e pavão) 
azulejo, ed. Ratton, Lisboa, s/d 
©  CRO|XISTO|AZ

sábado, 28 de fevereiro de 2015

1 ANO

Último dia do mês de Fevereiro, assinalamos o início deste blog com reedição da imagem que acompanhou o primeiro post sobre os Jardins dos Xisto.
Um ano depois, o balanço em números: 95 posts, 211 imagens publicadas, 300 comentários, 24435 visitas. E uma novidade: a partir de agora estamos também no Facebook. 
  

 > Xisto | Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Lago de neblina, Silveira dos Limões, 2013
fotografia digital
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

AMO A REGRA


>
 Amo a regra que corrige a emoção.
       Amo a emoção que corrige a regra. 


> Leituras num banco de jardim | Citação 13
Georges Braque (1882-1963), França
> J'aime la règle que corrige l'émotion. J'aime lémotion qui corrige la règle,
in "Georges Braque - His Graphic Work", ed. Abrams, New York, 1961


> Xisto | Etnografia | Coração 
Recipientes para doçaria, séc.XX (1ª metade?) 
chapa metálica / cerâmica vidrada.
©  CRO|XISTO|ET|COR

sábado, 14 de fevereiro de 2015

VIOLETAS




Primeiras violetas deste ano nos Jardins do Xisto, com as quais se fez este raminho. A Viola odorata evoca-nos canteiros floridos da infância e vendedeiras do Chiado, em Lisboa. Ou ainda uma pintura de René Magritte, com bouquet de violetas a cobrir o rosto de uma elegante dama burguesa representada à beira-mar em traje branco de passeio La Grande Guerre, 1964 (v.link) - talvez o premonitório retrato surreal de uma certa Europa fantasmática, gélida e cruel, neste nosso tempo de guerra economicista

A vasta história cultural das violetas atravessou diferentes lugares e épocas desde a Antiguidade. Queremos assinalar que elas foram símbolo botânico de Atenas, "cidade coroada de violetas" (Aristófanes, ca. 447 a.C. - ca. 385 a.C.). Por outro lado, a cidade de Atenas foi erguida em honra de Palas Atena, que segundo a mitologia grega é "a deusa da guerra, da civilização, da sabedoria, da estratégia em batalha, das artes, da justiça e da habilidade"Pura coincidência... 
  

 > Xisto | Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Raminho de violetas, Silveira dos Limões, Fevereiro, 2015 
fotografia digital
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

OS DIAS DA NEVE | 2010

Sem que o soubéssemos, esta lua-cheia com auréola, fotografada na madrugada de 10 de Janeiro de 2010, era prenúncio de um nevão, talvez um dos maiores de que há memória na Silveira dos Limões


A reportagem que agora se publica em diaporama, com fotografias captadas a 10 e 11 de Janeiro de 2010, integra o Banco de Imagens da Silveira (BIS), acervo digital criado no âmbito do projecto Xisto.

O BIS reúne fotografias dos anos mais recentes, sobretudo a partir de 2008, e também fotografias antigas que nos vão sendo cedidas para reprodução. Constitui um arquivo iconográfico da Silveira dos Limões, das suas gentes e costumes, dos pequenos e grandes acontecimentos locais, das transformações do lugar e da paisagem. 
Para memória futura. 


> Xisto | Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Lua de neve, Silveira dos Limões, 10.01.2010 
Os Dias da Neve | 2010 (diaporama), Silveira dos Limões, 10/11.01.2010)
fotografias digitais
©  CRO|XISTO|BIS|SL(RO)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

FENÓMENO BOTÂNICO



Na parte mais elevada dos Jardins do Xisto, confluência do Terreiro da Saudade com o novo Jardim dos Medronheiros, um pinheiro-bravo centenário, Pinus pinaster de grande porte, apresenta um dos braços inferiores vergado ao peso de um insólito corpo vegetal, volumoso e compacto, que ao longe parece uma excrescência, ou um enxame, ou ainda uma obra mobile de Alexander Calder, escultor de formas espaciais.

Rara e enigmática "obra da natureza", formada por agulhas de pinheiro, actualmente já não é verde, tem cor da caruma seca. Existe há anos nesta árvore notável e a maior parte dos visitantes dos Jardins do Xisto nunca viu nada assim. Há no entanto quem se lembre de algo idêntico, em aldeias próximas, pendurada "para dar sorte", junto à porta de tabernas ou vendas. 
Superstições à parte, parece que esta espécie de escultura, em forma de quase-coração, aérea e efémera, tão estrategicamente localizada, aguardava que o destino a rodeasse de jardins. Bom sinal, uma sorte, portanto.

Nada sabemos sobre tal fenómeno botânico nem como explicá-lo. Se algum dos nossos visitantes ou leitores tiver qualquer tipo de informação científica, ou se conhecer ocorrências semelhantes, agradecemos que partilhe connosco.


|Adenda 1| |30.01.2015|
Segue um conjunto de fotografias que possibilita localizar o "fenómeno" no espaço dos Jardins e explicitar a relação de escalas. (Clicar as imagens)






|Adenda 2| |02.02.2015|
Com base em memórias dos habitantes locais, é de excluir a hipótese zoológica do ninho de esquilo, referida em comentário a este post por Rafael Carvalho. Extintos do território português desde o século XVI, os esquilos (ver também aqui) reapareceram no norte do país, a partir da Galiza, apenas na década de 1980 e só mais tarde na Beira Baixa. 
Ora, o "fenómeno" dos estranhos corpos vegetais em pinheiros-bravos da Zona do Pinhal Interior é observado há várias décadas, e a ele estavam associados costumes etnográficos, ou mais precisamente etnobotânicos, que consistiam na localização de tabernas através de sinalização botânica, substituindo tabuletas ou letreiros. Destes antigos costumes rurais, infelizmente, ainda não encontrámos qualquer registo descritivo ou iconográfico. 
Segundo nos relata Shanti, na caixa de comentários, "Era então prática comum dos taberneiros, a colheita de raridades vegetais, como 'esculturas' de agulhas de pinheiro, para as pendurarem à entrada das tabernas". Acresce ter sido observado de perto, após a queda das agulhas, o "esqueleto" de tronquinhos emaranhados e contorcidos que sustentava a caruma, como se fosse uma árvore miniatura que tivesse crescido e morrido na extremidade de uma pernada da árvore-mãe. 
Então, como identificar o "fenómeno", como classificar? Será uma anomalia, uma malformação, uma alteração genética? 


|Adenda 3| |09.02.2015|
Depois dos fortes ventos da última semana a bola de caruma ficou meio desfeita. E totalmente desfeita qualquer dúvida que restasse.



Subindo uma escada, foi possível tirar fotografias mais esclarecedoras. Dois níveis de zoom permitem observar a estrutura de tronquinhos atrofiados que produziu e sustentou o corpo compacto de caruma, outrora viva, integrando também pinhas miniatura. 
Resta conhecer a designação botânica para este fenómeno, como se desenvolve e porquê. Saber ainda se ocorre apenas no Pinus pinaster, se está circunscrito a esta zona do Pinhal Interior, se existe noutras regiões do país ou do mundo.





> Xisto | Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Fenómeno botânico em pinheiro-bravo do Terreiro da Saudade, 
Silveira dos Limões, 2015 
Imagens em Adenda 1: Silveira dos Limões, 2012-2015
Imagens em Adenda 3: Silveira dos Limões, 6.02.2015
fotografias digitais
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

CADARRAPOS



Parecem pataniscas, mas o sabor e a textura são bem diferentes. Uma parte da massa de farinheira crua não vai ao fumeiro e reserva-se no alguidar para fazer os cadarrapos, que são fritos em azeite. Este é hoje um dos quase desaparecidos petiscos tradicionais da Beira Baixa. Sabor antigo, delicioso, aqui acompanhado de um macaquinho traquinas de Paula Rego.

No vizinho Alto Alentejo, onde muitos costumes gastronómicos ainda se mantêm bem vivos, também se cozinha esta iguaria. Mas ali, dão-lhe o nome de papa-ratos ou papa- ratinhos.


 > Xisto | Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Cadarrapos, Silveira dos Limões, Janeiro 2015
fotografia digital
©  CRO|XISTO|BIS (RO)


 > Xisto | Arte Contemporânea
Paula Rego (1935), Prato com desenho de macaco
ed. IPPAR / Palácio Nacional de Queluz, s/d (c.2001)
©  CRO|XISTO|AC

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

JARDIM DOS MEDRONHEIROS



Numa zona de pinhal e mato, contígua ao Terreiro da Saudadesurge agora uma extensão dos Jardins do Xisto, com a designação Jardim dos Medronheiros. 

O essencial da intervenção no novo jardim, cujos trabalhos se iniciaram em Setembro passado, consiste na construção de percursos de circulação pedonal. Trata-se de um trabalho de desenho directo no terreno, com o propósito de preservar a vegetação pré-existente. E, de facto, a abertura de caminhos traçados a picareta, pá e enxada, com auxílio de réguas e fita métrica, embora tenha modificado a topografia acidentada e íngreme do sítio não alterou significativamente a vida vegetal autóctone.

Utilizando somente os recursos existentes nas imediações, construiram-se dois tipos de caminhos: eixos principais, descendentes a partir do Terreiro, formados por rectas, curvas e contracurvas, e eixos complementares ou carreiros, deliberadamente mais estreitos e sinuosos. Aqui e acolá, definiram-se ainda algumas clareiras e recantos de repouso com assentos em terra crua.


O solo de saibro ou argila foi aproveitado para formar e nivelar os caminhos de terra batida, os quais são contornados por linhas separadoras em finas lajes de xisto e rodeados por canteiros de terra fértil. Através destes canteiros que são reservatórios de estrume vegetal, pretende-se melhorar as condições do terreno e facilitar a propagação de novas espécies autóctones.

Tendo como cenário envolvente a floresta da Beira Baixa, identificada como sub-região Pinhal Interior Sul, há a destacar a presença de vários pinheiros bravos (Pinus pinasterdispersos, de grande porte, e um bosquete compacto que é na verdade um pequeno pinhal. Outra presença a destacar, o medronheiro (Arbutus unedo), embora por enquanto menos frequente que o pinheiro-bravo, é uma espécie notável que consideramos parte essencial da identidade deste jardim.


 > Xisto | Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Chão de medronheiro, Silveira dos Limões, Outono 2014
Caminhos novos do Jardim dos Medronheiros, Silveira dos Limões, Janeiro 2015
fotografias digitais
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)


JARDIM DOS MEDRONHEIROS FLORA AUTÓCTONE PRÉ-EXISTENTE (Jan. 2015)
carqueja Pterospartum tridentata | carvalho Quercus sp. | coroa-de-rei Helichrysum stoechas | esteva Cistus ladanifer  medronheiro Arbutus unedo pilriteiro Crataegus monogyna | pinheiro-bravo Pinus pinaster queiró Erica umbellata | roselha Cistus crispus | rosmaninho Lavandula stoechas sargaço/mato-branco Halymium ocymoides | tojo-gadanho Genista triacanthos. | urze Calluna vulgaris 


JARDIM DOS MEDRONHEIROS FLORA AUTÓCTONE INTRODUZIDA
azevinho Ilex aquifolium | oliveira Olea europea palmeira-das-vassouras/palmeira-anã Chamaerops humilis rododendro Rhododendron ponticum baeticum | santolina/erva-das-constipações(?) Santolina rosmarinifolia | tojo-molar  Ulex minor | vinca-maior Vinca major 

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

2015


Feliz Ano Novo!

Um jardim demora pelo menos o tempo de uma geração a tornar-se um lugar exuberante, mas a impaciência não faz bem à jardinagem. 

O pinheiro manso (Pinus pinea), uma das espécies notáveis da flora mediterrânica, outrora bem mais frequente nesta zona da Beira Baixa, foi a primeira árvore plantada há três anos atrás nos Jardins do Xisto, quando este projecto paisagístico ainda nem existia. Entretanto foi preciso aprender a alegria de ver árvores a crescer, sobretudo as muito lentas como é o pinheiro manso.  

> Xisto | Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Pinheiro manso, 
Silveira dos Limões, 2014
fotografia digital
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

O MEU MENINO


>
 O meu menino é d'oiro
É d'oiro fino
Não façam caso que é pequenino.

O meu menino é d'oiro
D'oiro fagueiro
Hei-de levá-lo no meu veleiro.

Venham aves do céu
Pousar de mansinho
Por sobre os ombros do meu menino
Do meu menino, do meu menino.

Venha comigo venham
Que eu não vou só
Levo o menino no meu trenó,

Quantos sonhos ligeiros
P'ra teu sossego
Menino avaro não tenhas medo.

Onde fores no teu sonho
Quero ir contigo
Menino d'oiro sou teu amigo.

Venham altas montanhas
Ventos do mar
Que o meu menino nasceu p'r'amar. 


> Leituras num banco de jardim | Citação 12
José Afonso (1929-1987), Portugal
Menino d'oiro, in Cantares, 1968


> Xisto | Iconografia Sacra | Presépio 
Menino Jesus, déc. 1990?
miniatura em plástico (resina), 3,5 cm.
©  CRO|XISTO|IS|P


Longe vão os tempos em que as figuras do chamado "presépio tradicional português" eram produzidas semi-industrialmente em cerâmica pintada. Entretanto, foram sendo introduzidas figuras em plástico, sobretudo importadas da China. Novos materiais e outras tipologias de representação, bem menos ingénuas. São as leis do mercado, dizem-nos. E a verdade é que o Natal, mais do que uma festa das famílias, se tornou um espectáculo grotesco de mercantilização global.
Quanto ao Menino Jesusminiatura em plástico (resina) de assinalável "verismo", reproduz possivelmente um modelo italianizado, desconhecendo-se a origem e data de fabrico. Incorporado recentemente na colecção Xisto|Presépio, como complemento ao figurado tradicional de Barcelos, este Menino contrapõe o tipo de representação predominante ao longo da 2ª metade do século XX, assinalando a decadência de um género iconográfico no contexto da tradição popular portuguesa.

sábado, 20 de dezembro de 2014

COGUMELOS, FETOS, MUSGOS, LÍQUENES
























Os ciclos da terra cumprem-se continuamente. Mas porque a jardinagem nos ensina uma peculiar atenção à Natureza, aos seus segredos e contrastes, o olhar completa-se em cada ano, em cada estação. 

A memória de outros dezembros não impede que a magia se renove, bem pelo contrário, acentua o deslumbramento. Estranhos seres do mundo vegetal, adormecidos durante o verão quente e seco da Beira Baixa, regressam agora com o frio e a humidade, irrompem do solo ou invadem troncos secos e pedras. Os Jardins do Xisto, um território habitável por gnomos e duendes, enchem-se de formas selvagens e caprichosas. O mistério dos bosques revela-se nos recantos sombrios, nas clareiras, na orla dos caminhos. 


> Xisto | Banco de Imagens da Silveira (BIS)
Outono-Inverno nos Jardins do Xisto, 
Silveira dos Limões, 2014
fotografias digitais
©  CRO|XISTO|BIS|JX(RO)